O Papa Francisco dirigiu nesta segunda-feira um discurso ao Grão-Mufti de Jerusalém, o máximo líder religioso muçulmano, no qual chamou a trabalhar juntos pela paz e a justiça, e exortou a que ninguém instrumentalize o nome de Deus para a violência.

A seguir a íntegra:

Excelência,

Queridos Amigos Muçulmanos!

Estou grato por poder encontrar-vos neste lugar sagrado. De coração vos agradeço pelo amável convite que me quisestes fazer e, de modo particular, agradeço a Vossa Excelência e ao Presidente do Conselho Supremo Muçulmano.

Seguindo os passos dos meus Antecessores e, em particular, a luminosa esteira da viagem de Paulo VI há cinquenta anos – a primeira viagem de um Papa à Terra Santa –, desejei ardentemente vir como peregrino visitar os lugares que viram a presença terrena de Jesus Cristo. Mas esta minha peregrinação não seria completa, se não contemplasse também o encontro com as pessoas e as comunidades que vivem nesta Terra e, por isso, sinto-me particularmente feliz por me encontrar convosco, Amigos Muçulmanos.

Neste momento, o meu pensamento volta-se para a figura de Abraão, que viveu como peregrino nestas terras. Embora cada qual a seu modo, muçulmanos, cristãos e judeus reconhecem em Abraão um pai na fé e um grande exemplo a imitar. Ele fez-se peregrino, deixando o seu povo e a própria casa, para empreender aquela aventura espiritual a que Deus o chamava.

Um peregrino é uma pessoa que se faz pobre, que se põe a caminho, propende para uma grande e suspirada meta, vive da esperança duma promessa recebida (cf. Heb 11, 8-19).
Esta foi a condição de Abraão, esta deveria ser também a nossa disposição espiritual. Não podemos jamais considerar-nos auto-suficientes, senhores da nossa vida; não podemos limitar-nos a ficar fechados, seguros nas nossas convicções. Diante do mistério de Deus, somos todos pobres, sentimos que devemos estar sempre prontos para sair de nós mesmos, dóceis à chamada que Deus nos dirige, abertos ao futuro que Ele quer construir para nós.

Nesta nossa peregrinação terrena, não estamos sozinhos: cruzamos o caminho de outros irmãos, às vezes partilhamos com eles um pedaço de estrada, outras vezes vivemos juntos uma pausa que nos revigora. Tal é o encontro de hoje, que vivo com particular gratidão: uma aprazível pausa comum, tornada possível pela vossa hospitalidade, naquela peregrinação que é a vida nossa e das nossas comunidades. Vivemos uma comunicação e um intercâmbio fraternos que podem revigorar-nos e dar-nos novas forças para enfrentar os desafios comuns que se nos apresentam pela frente.

Na realidade, não podemos esquecer que a peregrinação de Abraão foi também uma chamada para a justiça: Deus qui-lo testemunha do seu agir e seu imitador. Também nós queremos ser testemunhas do agir de Deus no mundo e por isso, precisamente neste nosso encontro, sentimos ressoar profundamente a chamada para sermos agentes de paz e de justiça, para implorarmos estes dons na oração e para aprendermos do Alto a misericórdia, a magnanimidade, a compaixão.

Queridos Amigos, a partir deste lugar santo, lanço um premente apelo a todas as pessoas e comunidades que se reconhecem em Abraão:

Respeitemo-nos e amemo-nos uns aos outros como irmãos e irmãs!

Aprendamos a compreender a dor do outro!

Ninguém instrumentalize, para a violência, o nome de Deus!

Trabalhemos juntos em prol da justiça e da paz!

Salam!

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